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Eloá na Utin - O dia que o Senhor a Restaurou para Sempre!

Após aquela visita sem sucesso nos exames que Eloá teria que fazer, o que apenas pairavam em nós eram o medo e angústia. Quando levantei naquele sábado bem cedinho eu estava extremamente angustiada, eu acordei com vontade de estar com a minha filha e até aquele momento eu não sabia se iria vê-la naquele dia. Fomos a mesa para o café da manhã e ali conversávamos. Minha face de preocupação era tamanha mas sentia no Lorenzo ele mostrar tranquilidade. Deixei por ele se manifestar se teríamos como ir ver a Eloá, mas ele não dizia nada a respeito. Foi quando vi que as horas iam passando e perguntei se iríamos no hospital e ele me disse que não. Não teríamos como ir visto que não tínhamos mais dinheiro para gasolina caso pegássemos um carro emprestado. Eu sabia que a nossa condição financeira naquele momento não nos permitiria ir vê-la naquele sábado e sim, ele daria um jeito e iríamos no domingo onde minha sogra também iria conosco para conhecer a sua netinha. Eu não sei explicar o que estava sentindo naquela manhã, mas eu sentia que precisava estar lá com a Eloá, eu queria estar com minha filha. Disse isso a ele e eu chorava muito. Ele me disse que também queria estar com nossa filha, mas não tínhamos condições. Pensei em vários amigos e irmãos que poderiam nos levar, mas achei por melhor não pedir. Eu precisava estar lá, eu queria estar lá, e não medi as consequências... Foi então que disse ao Lorenzo que para vê-la eu iria de ônibus se necessário fosse. Disse que ele ficaria com as crianças e pelo telefone iríamos nos falando, ele concordou e assim eu fiz. - Que loucura eu estou fazendo! assim eu pensava.
Eram quase 10:00hrs da manhã e eu já começava a me arrumar. Coloquei uns cueirinhos na bolsa para levar e o coração cada vez mais apertado. Eu queria chegar logo no hospital. Fomos em família para o ponto de ônibus, ali eles esperaram o ônibus chegar e quando o mesmo chegou nos despedimos.
Lorenzo dizia: - Amor vai dar tudo certo!
Eu respondia - Amém!
Tudo que fizemos durante a gestação estávamos sempre em família. Durante um tempo eu esperei para contar para as crianças a respeito das possibilidades da irmãzinha e até aquele momento não tínhamos ainda contado sobre suas alterações morfológicas, mas o que podíamos compartilhar, compartilhávamos, de fato eles nãos sabiam a fundo o que estava se passando. A caminho do hospital eu orava e muito pensava sobre tudo o que tínhamos vivido até aquele dia. Grande foi a misericórdia do Senhor, grande foi o seu cuidado, grandes foram as experiências que tivemos com Deus. Eu mais uma vez estava indo ver o meu milagre, mesmo de modo inconsequente, eu sentia que precisava estar com a minha filha. Pedia a Deus para guardar minha saúde e não permitir complicações em minha cirurgia, e com muita alegria digo que assim o Senhor fez. Eu não sabia muito bem qual ônibus pegaria ao chegar no terminal e Deus foi mais uma vez maravilhoso que assim que desci nesse terminal logo o ônibus que passaria em frente ao hospital tinha acabado de parar na plataforma. Do terminal ao hospital foram aproximados 10 minutos. Meu Deus, eu ali estava cada vez mais com desejo de ver minha filha, e quando vi que nos aproximávamos do hospital, meu coração batia aceleradamente. Conheci uma senhorinha nesse ônibus onde conversamos e contei um pouco do que estávamos vivendo, ela logo nos desejou o melhor. Conversei também com uma mãe e filha que me disseram onde eu poderia descer, ali eu estava aliviada pois nada de mal havia me acontecido e elas me disseram que tudo ficaria bem, eu apenas confirmava e disse:
- Quem sabe nos veremos outra vez, pois ainda virei aqui por muitas vezes.
Elas sorriram e disseram: - Quem sabe!
Eu descia as escadas do ônibus dizendo: - Em Nome de Jesus!
Seguir em direção ao hospital nada mais era do que uma vontade incontrolável que eu tinha de ver minha menina. Eram pouco mais das 11hrs da manhã quando cheguei ao hospital. Na recepção me identifiquei e segui em direção a Utin. Cada vez mais meu coração se apertava, sensação difícil de explicar, eu sentia que precisava estar com minha pequena. Quando abri as portas da Utin de longe eu avistei a incubadora toda linda com as coisinhas que levei pra ela ao longo da semana. Uma luz bem fraquinha estava iluminando a sua ala, uma manta verde bebê com branco cobria a incubadora para não deixar a luz muito forte do ambiente incomodá-la. Meu coração se encheu de alegria ao ver mesmo que de longe. Fiz a higienização das mãos e me direcionei ao encontro da nossa filha. Nossa, ela estava linda! Foi emocionante vê-la com as fraldinhas que ao longo da gravidez tive forças para fazer biquinhos de crochê, tudo com carinho e principalmente muito amor. Ela estava deitadinha de barriguinha para cima, como travesseirinho estava uma fraldinha dobradinha embaixo da sua cabeça. Um outro cueiro em forma de "U" que simulava um útero estava a sua volta com seus pés apoiados nele. Em forma de rolinho tinha um outro cueiro para apoiar o cano do respirador, estava com luvinha em uma das mãos e sapatinho em um dos pés... Abraçadinha ela estava com uma outra fraldinha, ela estava linda, ela era linda! Foi emocionante vê-la com tudo que tínhamos levado para ela, foi um momento muito especial que pude vivenciar. Eu ali a observava com ternura e amor, não me cansava de olhá-la... Eram somente eu e ela e nada mais. Fiquei durante um tempo apenas a admirando e notei que o respirador não parava de alarmar, ele acendia uma luz vermelha em sua lateral e apitava muito forte. Chamei uma enfermeira e perguntei se isso era normal, e ela me disse que estava assim mesmo. Eu me assustei e abri a porta da incubadora e disse assim a Eloá:
- Meu amor, mamãe está aqui com você!
Foi algo tão surreal que no mesmo momento em que eu falei com ela o aparelho apitou ainda mais intensamente. A saturação de oxigênio da Eloá estava em torno de 80% quando cheguei, tinham mais ou menos uns 15 minutos que eu havia chegado e sua saturação baixou para 78 a 79%. Confesso que eu fiquei em pânico ao ver que diminuiu muito ao longo de dois dias e isso não era nada bom. Fui conversar com a plantonista desse sábado para entender o que estava acontecendo. Sem muito rodeio ela foi bem direta em suas palavras. Logo me disse que Eloá estava tendo algumas intercorrências, ela havia passado uma madrugada de muita oscilação de sua frequência cardíaca e saturação, onde eles chegaram a administrar Adrenalina por algumas vezes. Eu fiquei sem entender muita coisa, mas ela dizia que isso tudo era em decorrência da possível Síndrome de Patau, onde muitas eram as suas alterações, o que ela me passou em toda a sua avaliação é que grandes eram as chances da Eloá vir a óbito. Meu Deus! eu nem sabia o que pensar, imaginar que ela poderia morrer era uma coisa, mas daí está com ela a beira da morte isso eu não queria jamais acreditar. Eu questionava a médica a respeito dela ter feito suas necessidades fisiológicas pois ela ainda estava com a sua barriguinha inchada, mas ela me dizia que Eloá só havia feito cocô porque eles administraram supositório nela, e que ela por si só, não estava fazendo nada. Em minha cabeça isso ajudaria diminuir o inchaço em sua barriguinha, mas os seus problemas eram muito mais complexos do que eu poderia imaginar. Eu pensava que talvez seria mais fácil com todo o suporte ali, mas não era. Mesmo com todo cuidado e auxílio, ainda assim não foi o suficiente. Eu perguntava sobre remédios que estavam sendo administrados, se ela permanecia no sedativo, pois, ela estava imóvel e a médica me disse que ela não estava mais com o sedativo, e que ela não estava reagindo sozinha. O que talvez estivesse acontecendo era que o efeito estava demorando passar, mas que pelo tempo era para ela ter se movimentado, o que poderíamos fazer era apenas esperar ela reagir. Assim eu fiz... Enquanto ali eu esperava, eu orava, eu ficava acariciando minha pequena e conversando com ela. A todo momento eu dizia:
- Filha, mamãe está aqui, mamãe está aqui!
Era agoniante aquele aparelho apitando a todo instante, mas era o tempo todo mesmo. Sua saturação continuava a cair e quando chegou a 74% eu percebi que os médicos não poderiam fazer muita coisa. Eu saí por alguns minutos para almoçar no hospital mesmo e disse a minha pequena:
- Filha mamãe vai almoçar e os anjos do Senhor estão aqui te guardando, mamãe não vai demorar. Te Amo!
Enquanto eu fui saindo uma enfermeira me disse para ir tranquila pois ela ficaria ali com a Eloá. Eu agradeci e saí. Enquanto eu almoçava, eu conversava com uma outra mãezinha que também estava com o seu filho na Utin, o mesmo nasceu com Síndrome de Down e também era cardiopata, um guerreirinho lindo. Ela já estava ali a pouco mais de quarenta dias, a mesma me dava forças para enfrentar toda aquela situação. Talvez em minhas palavras eu não consiga descrever como foi aquele dia, só posso dizer que grande foi a Aflição. Logo após eu ter almoçado liguei para o Lorenzo e contei como ela estava, e que também usava as suas coisinhas na incubadora, que estava ainda mais linda, dormindo como uma princesinha. Disse que eu iria mantendo informado de tudo o que eles fizessem. Quando retornei para Utin, a incubadora da Eloá estava rodeado de médicos, enfermeiros e Técnicos. Eu tomei um susto enorme pois eu imaginei o pior, foi quando me aproximei para ver o que estava acontecendo e percebi que a saturação da Eloá havia diminuído ainda mais, estava em torno de 70%. Eu comecei a ficar apavorada por dentro, mas eu estava extremamente calma por fora. Eu chorava calada, apenas minhas lágrimas escorriam sem eu esboçar um som. Como caiu mais sua saturação a equipe se posicionou para uma ação imediata. Mais um pouco de Adrenalina foi administrada nela naquele momento e a médica pediu que eu esperasse do outro lado pois os procedimentos que eles fariam seria muito doloroso para eu presenciar. Nesse momento em que me retirei para uma distância de uns 2,5 metros de onde estava a incubadora eu pensava muitas coisas ao mesmo tempo . De pé ali eu não tirava meus olhos da direção deles. Eu orava a todo o instante pedindo pelo milagre do Senhor. Mandei uma mensagem para o Lorenzo dizendo o quanto eu estava aflita, pois, eles haviam me pedido para não ficar ao lado dela e como eu não tirava os olhos de lá, eles colocaram um box de frente a incubadora. Até a mãezinha do bebê com Síndrome de Down foi solicitada que ela não ficasse ali também. Minha filha estava sendo atendida por alguma intercorrência que eu nem sabia o que era de fato, e o outro bebê estava sendo puncionado onde o mesmo gritava e gritava... Eu sem ter o que fazer chorava naquele canto pedindo o Socorro do Senhor e em constante oração, isso já eram 14:50hrs, a equipe ia de um lado para o outro e comigo ninguém falava nada. A mãezinha desse bebê conversava comigo tentando me acalmar, eu estava muito aflita. Eu mandava mensagens para o Lorenzo dizendo que nossa filha estava querendo viver e que eu cria que o Senhor iria mudar todo o quadro clínico dela. Ele me respondia que era para eu entregar nas mãos de Deus, pois, Ele sabia o que fazer. Como foram intermináveis esses minutos que os médicos estavam ali com a Eloá. Tinha momento em que eu ligava para o Lorenzo e tentava ser mais clara do que eu já era a respeito da nossa filha, mas era difícil tanto pra mim quanto para ele poder assimilar e aceitar que a nossa filha estava nos deixando. Assim que eles terminaram me deixaram ficar com ela, e quando olhei para o monitor, sua saturação já estava abaixo de 65%. Eu perguntei porque abaixou tanto, e me disseram que era a condição da possível Síndrome, eles estavam fazendo o possível para ajudá-la e me contou o que eles fizeram... No momento em que colocaram o box de frente a incubadora, foi para eu não vê-los aspirando a Eloá. Fizeram aspiração pois ela estava tendo sangramento dentro de seu pequeno pulmãozinho, o que é comum acontecer em prematuros extremos, o que era o caso da nossa filha. Essa foi a segunda vez que eles a aspiraram naquele dia, e ela me disse:
- Mãezinha, a situação da sua filha é muito delicada, infelizmente são muitas as alterações, tanto morfológicas como possível alteração genética...
Eu ouvia as palavras dela com lágrimas em meus olhos. O Medo nos cercavam de todas as formas. Medo deles não conseguirem reverter o quadro, medo de não ter condições de cuidar, medo de não saber cuidar. Mas o medo maior era de perdê-la.
Por volta das 15:11hrs mandei mais uma mensagem ao Lorenzo, eu não queria preocupá-lo e não queria ter que dar uma terrível notícia a ele. A saturação da Eloá só ia caindo cada vez mais, eu sentia que minha filha estava nos deixando. Eu passava as mãos em seu corpinho e já sentia seus membros um pouco frios. Falei com a enfermeira e ela colocou algodão, um plástico e o cueirinho para poder aquecê-la. Eles fizeram o que podia fazer, eu por fim, não quis mais me importa com o que poderia ser feito ou não, eu apenas a amei e permanecia em oração. Só um Milagre poderia mudar as nossas vidas. A medida que a saturação dela ia caindo mais e mais, logo a equipe se concentrava ao redor dela. Lembra daquele bebê sendo puncionado? Pois bem, eles buscaram em outros, e em outras especialidades alguém para puncionar aquele bebê. Tentaram por mais de uma hora até que um outro médico conseguiu. O choro dele e a preocupação com nossa filha era de extrema agonia. A saturação da Eloá já estava em torno de 47% e eles mais uma vez administraram adrenalina e me disseram:
- Não podemos mais administrar adrenalina na sua filha, tudo o que estava ao nosso alcance fizemos, nos resta somente aguardar a reação dela.
Eu fiquei arrasada! Como eu orei, como pedi ao Senhor para não deixar esse dia chegar, eu não queria passar pela experiência de sepultar um filho, e isso estava cada vez mais próximo. Lembro-me que quando eu e Lorenzo a vimos pela primeira vez, o seu coraçãozinho batia tão rápido que conseguíamos ver seu peitinho pulsar. Foi tão lindo esse dia... O que era a TRANSPOSIÇÃO DOS GRANDES VASOS, COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR, COMUNICAÇÃO INTERATRIAL e INTERRUPÇÃO DO ARCO AÓRTICO DIANTE DO DEUS QUE SERVIMOS? Não era nada! Permaneci constante na Fé em Deus, eu tinha esperança que toda aquela situação poderia se reverter. A saturação dela foi para 50% onde a enfermeira me disse: - Vamos ter ânimo mãezinha, olha que está subindo. Eu mandei mensagem ao Lorenzo para contar que a saturação estava subindo um pouco, e que eu ficaria ali mais um tempo, iria orar por ela e ir para casa. Sabe, eu cria dentro de mim que todos os parâmetros da Eloá iriam se normalizar, por isso eu disse que iria para casa. Ele me pediu que dissesse a ela que ele a Amava muito, o que eu fiz. De certa forma, eu não aguentava mais aquela situação... Como eu queria que minha filha não passasse por tudo aquilo. Era por volta de 15:50hrs que decidi ir embora, pedi a enfermeira que deixasse eu abrir todo um lado da incubadora pois eu queria orar para minha filha antes de ir para casa , sem exitar ela me deixou fazer isso. Naquele momento foi a oração mais difícil que já fiz em minha vida... Eu não via mais ninguém a minha volta, era como se estivesse somente eu e a Eloá. Eu me aproximei dela, tentava sentir seu cheirinho pois ainda eu não havia pego ela em meus braços. Coloquei minhas mãos sobre ela e disse: Filha, mamãe, papai, irmão e irmã te ama muito! Mamãe vai para casa mas amanhã eu volto. Eu te Amo, eu te amo, eu te amo muito! Ainda com ela eu muito chorava, eu louvava a Deus pela vida da minha filha. Como eu a amei e ama-lá naquele momento, foi o momento escolhido e separado pelo Senhor para nós duas. - Como eu te Amo! eu dizia e por fim orei ao Senhor: 
- Senhor! Não está em nossas mãos, só tu podes fazer! Os médicos fizeram o que podia fazer, eu nada posso senão orar. Peço que o melhor pela minha Filha o Senhor venha fazer, eu entrego ela em tuas mãos, que não seja feita a minha vontade e sim a vontade do Senhor para ela, a ti eu oro em Nome de Jesus, Amém. Voltei os olhos para Eloá e disse:
- Filha, eu te Amo! Eu te Amo pra Sempre!
A abençoei e fechei a incubadora. Acredito que a enfermeira disse a médica que eu iria para casa pois quando eu acabei de orar e me despedir da Eloá, quando me virei a médica estava atrás de mim. Eu disse a ela que iria para casa e que no outro dia eu voltaria. Logo ela me perguntou se eu estava sozinha ali, e eu disse que sim, pois, meu esposo estava com nossos outros filhos. Ela olhou de forma tão profunda em meus olhos e começou a me falar da gravidade da Eloá com um tom mais manso. Ela não queria ser direta em dizer: "Mãe, sua filha está morrendo, fique aqui não vá!" Eu sabia que minha filha estava partindo e eu jamais queria vivenciar isso. Muito bondosa ela me fez a pergunta que eu mais esperei nesses dias em que ela estava na Utin:
- Você já segurou a sua filha?
Eu respondi que não. E logo ela me fez a pergunta tão esperada:
- Você quer segurar sua Filha?
Meu Deus, eu mal podia acreditar que o dia de segurá-la chegou, sem exitar eu respondi:
 - Sim, sim eu quero!
Aqui enquanto escrevo todos esses relatos, todas as lembranças me vem a memória de forma tão intensa. Que momento único que eu vivenciei, fecho meus olhos e minha memória me leva a Uti Neonatal daquele hospital me fazendo recordar um dos momentos mais incríveis em minha vida. Eu sabia que um dia eu a pegaria em meus braços, apenas não tinha noção de quando seria esse dia. A princípio era uma realidade muito distante para se viver, porém o grande dia chegou. Naquele momento eu nem conseguia pensar que minha filha estava partindo, apesar de saber quê, o que a médica fez foi me dar oportunidade de me despedir da minha filha, mas eu não via aquele momento com uma despedida. Ali eu iria vivenciar o que eu não vivenciei no momento em que ela nasceu. Seria nosso primeiro contato com ela em meus braços. A equipe toda do plantão se mobilizou para que eu pudesse pegá-la em meus braços e eu queria desfrutar desse momento. Não era apenas eu pegar ela da incubadora e pronto, não! Era muito mais complexo do que eu poderia imaginar. Me colocaram sentada em uma cadeira ao lado da incubadora com sua manta verde bebê em meu colo para poder segurá-la. A médica tirou Eloá do respirador e ficou fazendo ventilação manual nela com um ambu, enquanto outra a pegava para colocá-la em meus braços, e uma outra segurava todos os fios dos acessos que estavam na Eloá para que não corresse o risco de soltar. Elas contaram até três após fazerem tudo isso e a colocaram em meus braços. Que Emoção foi pegá-la pela primeira vez! Assim que ela já estava em meu colo, rapidamente a conectaram ao respirador e todas elas me deixaram com ela o tempo que eu quisesse. Era eu e ela, mãe e filha. Um Sonho que nasceu primeiro no coração de Deus e foi gerado em nossas vidas. Como olhei seus detalhes, seu pequeno rostinho, seus pequenos pezinhos, suas mãozinhas com seus pequenos dedinhos. Aquele corpinho tão pequeno, minha filha, meu sonho, meu maior milagre! Eu ria e chorava, eu registrava em minha memória cada detalhe daquele momento pois eu não sabia se teria outro. Eu chamei a enfermeira e perguntei se eu poderia tirar uma foto e ela me disse que sim. Ela pegou a câmera e tirou algumas fotos desse momento. 
Nosso milagre!


Aqui ela pediu que eu olhasse para a câmera e perguntou se ela poderia tirar do rostinho dela. Logo eu a autorizei onde ficou esse lindo registro que ficará marcado para sempre em minha vida.

Aqui eles tinha acabado de colocá-la em meus braços e posicionado o cano do respirador em meus ombros. Eu fiquei toda boba com ela em meus braços, eu não conseguia acreditar que estava com ela...
 Com minhas mãos eu queria tocar cada parte do seu corpinho, e aqui eu acariciava seu rostinho. Ela foi um lindo milagre do Senhor, não havia outra explicação para minha filha estar viva senão o próprio Senhor. Deus é bom o tempo todo, e quão bondoso Ele foi em permitir esse momento, único.
 Eu ficava boba com cada detalhe, aqui eu pegava o pezinho da Eloá e falava com a enfermeira:
- Como é pequenininho. Eu ria e chorava ao mesmo tempo. Ela conseguiu registrar todos esses detalhes tão perfeitos.

Eu apenas sabia admirá-la e agradecer a Deus por aquela oportunidade. Eu estava aproveitando com todas as minhas forças. Sorria em tempo de chorar, adorava em um momento que talvez para muitos o mais fácil seria murmurar. Eu ali com ela em meus braços pude dizer o quanto eu a amava e o quanto o papai também a amava. Como eu queria que o Lorenzo pudesse viver esse momento, mas aprouve Deus separa esse momento apenas pra mim. Não porque eu seja mais especial, mas porque quem determina todos os nossos passos é Ele por mais que façamos planos(Provérbios 16:9). Nosso desejo era os dois vivenciarem esse momento, mas o que estaria por acontecer Lorenzo não queria cogitar vivenciar de forma alguma. Ele não queria estar presente caso a Eloá viesse a falecer. Deus permitir apenas eu ali era cuidado dEle com todos nós.
Eu falava tantas coisas para minha filha. Pude amá-la, pude dar carinho, eu apenas não pude beijá-la. Eram muitos fios, o caninho do respirador, e eu tinha medo de machucá-la, mas apesar disso, eu a aninhei em meus braços. Quando a enfermeira terminou de tirar todas as fotos ficou apenas eu e a Eloá naquele cantinho escolhido para nosso primeiro e último momento. Eu mandei fotos para o Lorenzo de nós duas o que deixou emocionado. Eu pude orar por ela, pude contar como ela era amada e desejada, e como eu desejei aquele momento. Eu cantei pra ela uma música que eu tanto ouvi durante nossa luta. Como fui consolada nos momentos de angústia e dor. No momento em que a ganhei, no momento em que eu a vi pela primeira vez, no momento em que eu tive que deixá-la no hospital e ir para casa. No momento em que eu abri a porta da minha casa e eu tive a certeza que OS SONHOS DE DEUS ERAM MAIORES QUE OS NOSSOS! Com lágrimas deslizando pelo meu rosto eu cantava:
Os sonhos de Deus são maiores que os teus
Tão grandes que nem pode imaginar
Não desanime, filho eu vim te consolar
Nas minhas promessas volte a acreditar
Os sonhos de Deus são maiores que os teus
Por isso vale a pena acreditar
O dia está chegando, eu vou te renovar 
Na minha presença tu vais prosperar
Eu sabia que os Sonhos que o Senhor tinha para Eloá era muito maior do que podíamos imaginar. Eu gerei o Sonho do Senhor, e esse sonho estava prestes a expirar para poder voltar para Ele. Ainda com ela em meus braços pude entregá-la em oração para o Senhor. Foram aproximados 20 minutos que estive com ela em meu colo e chamei a enfermeira e disse que colocaria ela novamente na incubadora. Ali foi a primeira e última vez que peguei minha filha com vida em meu colo. Assim que ela voltou para a incubadora a médica se aproximou pegou o estetoscópio e foi ouvir o coração da Eloá. Antes de colocar o aparelho em seu peitinho, ela pediu que eu me retirasse. Eu voltei para um cantinho onde eu ficava aguardando quando eles faziam algum procedimento nela. Poucos minutos depois ela vem em minha direção para tentar de forma menos traumática dar a notícia que eu jamais imaginei vivenciar um dia. Ela começou resumindo todo o quadro clínico da Eloá, contando todos os detalhes das intercorrências e intervenções que ela teve, e por último falou do seu frágil coração. Falava dos problemas confirmados e os que ainda não haviam sido esclarecidos e que eles tentaram tudo o que podia fazer para mantê-lo batendo. Eu de pé em frente as duas a poucos metros da minha filha, eu virava a cabeça para onde ela estava e tentava olhar para as duas médicas que vieram até mim, mas eu não conseguia... A dor era tamanha que eu abaixei minha cabeça e não esbravejei. Eu apenas perguntei: 
- E o coração da minha filha, parou? 
Ela respirou fundo e disse:
 - Sim.
Meu Deus! Que dor eu senti naquele momento, eu apenas chorava silenciosamente onde apenas lágrimas escorriam dos meus olhos. Eu perguntei se eu poderia ficar com ela em meus braços até o Lorenzo chegar e elas disseram que sim. Na verdade eu não queria que minha filha ficasse naquele lugar frio e escuro(o necrotério). Eu sei que seu espírito não estava mais ali, mas seu pequeno corpinho estava e eu não queria que ficasse em qualquer lugar. O Lugar dele era em meus braços. Se o Senhor me deu forças para passar por tudo aquilo, agora era o momento que eu mais precisava dEle pois, eu iria segurar um pedacinho de mim sem vida. Eu pedi licença as duas pois eu teria que dar a notícia ao Lorenzo e eu não sabia como contar. Ele sabia que eu poderia ligar em algum momento para dar uma infeliz notícia, nós estávamos longe mas em constante comunicação e por fim tomei coragem e liguei. Eu não sabia o que dizer e me veio a palavra inicial:
- Amor, infelizmente nossa filha partiu!
Pude ouvir teu choro pelo telefone, ele ficou desolado. Ele perguntou como eu estava, e apesar de tudo eu disse que estava bem. Agora mais do que nunca precisaríamos de forças para passar por isso juntos pois, agora era falar com familiares e amigos. Preparar o funeral, meu Deus era tanta coisa que no primeiro momento eu só queria ele ali comigo. Após terminar de falar com ele, eu liguei para minha prima Karol, onde choramos e nos fortalecemos, ela avisou nossos familiares mais próximos exceto minha mãe, ela eu mesma avisaria. Liguei para meus pastores e agradeci o carinho que tiveram conosco nesse período e contei o que havia acontecido. Como sempre eles me deram força e se colocaram a disposição para o que precisássemos. Processei por um momento tudo aquilo, o que jamais questionei ao meu Deus o porquê de tamanho sofrimento e me veio um texto de Jó que em meio as provações, ele jamais atribuiu Deus culpa alguma e com esse versículo eu abri meu coração em gratidão a todos aqueles que nos ajudaram de alguma forma. Com essa foto, assim falei aos meus parentes e amigos:
"O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor."(Jó 1:21)
O Senhor tem nos sustentado com sua mão forte e em nenhum momento fomos desamparados, Ele sempre esteve ao nosso lado. A vontade de Deus foi nossa pequena Eloá estar ao lado dEle na Glória, e eu sei que um dia estaremos juntas e não haverá mais choro. Hoje nosso coração dói, mas ficará a saudade de seus chutinhos, de seu apertar no meu dedo com suas mãozinhas frágeis. Sentirei falta da sua boquinha linda, dos seus olhos pequeninos. Mamãe, papai, irmão e irmã a amou muito.
Obrigada a todos que junto com minha família orou pelo milagre... O Milagre foi alcançado com graça e misericórdia.
A Deus toda honra, Glória e louvor para todo Sempre. AMÉM!


Jamais me esquecei desta data 06 de Maio 2017, foi o dia mais triste e lindo da minha vida. Viver cada momento de tensão e ter o auxilio do Senhor, era o que nos mantinha de pé. Todo o medo apenas nos levou para mais perto do Pai. Não nos aproximamos para que viesse o milagre, entendíamos que não tinha outro alguém que poderia nos encorajar e guardar. Ele era e continua sendo nosso Refúgio e socorro nos momentos de angústia. Ele é exatamente tudo o que precisamos. Depois de dar a notícia a algumas pessoas, pedi que me deixassem pegar minha filha até o Lorenzo chegar, e elas deixaram eu pegá-la. Eu cheguei na sua incubadora e ela estava como se estivesse dormindo... Eu fiquei admirando ainda mais e mais minha pequena, como ela era pequena. Peguei ela em meus braços e não senti o seu coraçãozinho pulsar, suas mãozinha já não poderiam apertar meus dedos, sua boquinha já não choraria mais... Seu primeiro e último chorinho que foram como música para meus ouvidos, eu não ouviria mais... Eu a beijei, sim a beijei já sem vida, ela nunca sentiu o calor dos meus lábios tocar seu rostinho, mas eu a amei. Eu a apertei em meu colo, cheirei sua cabecinha, peguei sua mãozinha e beijei. Eu balançava ela em meu colo como se a estivesse ninando, eu apenas estava tendo uma reação de mãe. Fiquei ali por mais ou menos uma hora e meia até o Lorenzo chegar. As médicas já queriam levá-la para o necrotério e eu não queria que fizessem isso. Assim que Lorenzo chegou e me viu com ela no colo, logo se aproximou e juntos choramos e choramos. Ele a pegou em seu colo, beijou, abraçou nossa pequena e dizia - Papai te ama. Nossa despedida da nossa filha se iniciava ali, onde tivemos que aprender a lidar com a dor da sua partida. Não tínhamos mais nada para fazer naquele hospital... Optamos por não fazerem necropsia na Eloá, já era de mais o que ela e nós passamos durante aqueles dias, e o que queríamos era preservar seu pequeno corpinho. Jamais saberemos se Eloá teve realmente alguma síndrome, mas para nós isso não mudaria em nada nosso amor pela nossa princesa. Lorenzo disse para eu deixá-la para as enfermeiras prepararem ela. Que dor ter que colocá-la sem vida naquela incubadora... Eu peguei suas fraldinhas que estavam na incubadora e seu cueiro que estava envolvido em seu corpinho e aguardei as enfermeiras a arrumarem. Que tristeza foi vê-la sendo envolvida em papeis para ser encaminhada ao necrotério. Isso é horrível, como se estivessem embrulhando um pedaço de carne. Isso me consumia por dentro, como mãe creio que não precisava ser assim... Fomos acompanhando a enfermeira até o necrotério  e eu dizia ao Lorenzo: "Por quê eles não deixaram ela em meus braços até a funerária chegar?" Mas Deus em tudo é cuidadoso... Apesar da dor da partida de nossa filha, eu não queria ela dentro de alguma gaveta gelada, e no mesmo momento que chegamos na porta do necrotério a funerária também chegou. Ali eu já escolheria a sua roupinha para o velório, o que decidimos fazer. Peguei a sua roupinha, meias e luvinhas e entreguei ao rapaz da funerária e apenas pedi que deixasse ela como ela era, que não fizessem nada para mudar sua aparência e saí dali. Pelos corredores daquele hospital, eu caminhava e chorava, e não conseguia acreditar que definitivamente jamais a levaríamos para nossa casa. Jamais esquecerei desse dia, jamais seremos o mesmo, jamais esqueceremos nossa filha. Fomos para casa completamente arrasados, incompletos, com um rombo em nosso peito. Meu irmão levou o Lorenzo até o hospital e me recebeu na porta do hospital com um forte abraço o que naquele momento era o que realmente eu precisava. Eu chorava a todo momento com a fraldinha que Eloá usou naquele dia. Seu cheirinho ficou naquele pedacinho de pano onde cada vez que eu o inspirava aquele cheiro me levava a minha filha e eu não conseguia conter as lágrimas. Quando chegamos em casa o silêncio era o que eu queria apenas. Casa cheia de crianças, filhos e sobrinhos, tudo muito alegre mas faltava apenas uma criança que nunca pôde conhecer o seu lar. Eu e Lorenzo levamos as crianças para o quarto e contamos o que tinha acontecido com a irmãzinha deles... Meus filhos me surpreenderam muito com a reação deles. Eu rodeava e rodeava tentando encontrar as palavras certas e eles soltaram: Eloá morreu mãe? Eu não me contive e chorei no momento do "sim"... Nos abraçamos e nos consolamos. Meus filhos choraram muito pois juntos sonhamos com a irmãzinha caçula deles, que precisaria muito do apoio dos dois irmãos e agora ela não viria mais para o nosso lar. Foi difícil para todos nós. Logo após conversar com as crianças, eu então liguei para minha mãe... Como temi ela não suportar a notícia da morte da neta que nem teve tempo de conhecer... Eu buscava forças dentro de mim para então poder falar, e com ela no telefone eu dizia que infelizmente a Eloá havia partido... Minha mãe não conseguia falar nada ao telefone, eu apenas ouvia seu pranto. Como foi difícil para todos nós, como sofremos. Naquela noite recebemos mais visitas, mas o que eu queria mesmo era me deitar e chorar onde por muitas vezes eu chorei. Disse o quanto estava cansada e que queria dormir pois o dia seria longo. Colocamos nossos filhos para dormir e, Lorenzo e eu deitamos e nos apoiamos um no outro, dizíamos que estaríamos juntos em tudo. Aquela noite eu fechei os meus olhos e com a paz que excede todo entendimento pude adormecer com meu coração em paz. O Senhor estava a todo instante conosco, o que fizemos foi descansar nEle.

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