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Eloá na Utin - Vê-la pela primeira Vez / Alta sem Ela...

28 e 29 de Abril 2017
Logo após o seu nascimento eu queria muito conhecer minha filha. Passei a noite falando para o Lorenzo - "Amor, como será que ela está agora?", "Será que está com frio ou fome?", "Será que ela está sendo bem cuidada?". Eram tantas as perguntas, mas eu tinha que me conformar. Não a veria naquela noite, somente pela manhã do outro dia. Quando a minha anestesia passou e eu já tinha condições de me levantar, comecei a me lembrar de muitas histórias que ouvi sobre o primeiro banho pós cesárea. E o medo de dar o primeiro passo e cair, pois, é comum ficarmos tontas mas graças a Deus não senti nada disso. A enfermeira se ofereceu para me ajudar no banho mas eu preferi que o Lorenzo me acompanhasse. Ela me disse - "Você tira o curativo ou eu tiro?", eu pensei - "Que curativo?" e perguntei a ela - "Mas que curativo?", e ela me respondeu - "O que está no corte da cesárea." Foi quando eu me olhei e percebi que tinha um curativo enorme de um lado a outro com um esparadrapo enorme que me assustou kkkk, então disse a ela - "Não pode deixar isso quieto aqui não?", acho que Lorenzo estava tão assustado quanto eu estava. Que medo de tirar aquilo e a cirurgia abrir kkkk, graças a Deus deu tudo certo. Cirurgia perfeita, pontos perfeitos e nada de sangramentos, glórias a Deus! Não perdi meu útero, Deus estava cuidando de tudo! A sensação mais estranha que eu tive após tudo isso, era o vazio dentro de mim e a ausência da minha filha. Algumas horas antes ela estava dentro de mim e, de repente está a alguns metros longe em outra sala. Nunca pensei que fosse passar por isso algum dia. Tive dois partos e em todos eles eu ia para o quarto e logo em seguida vinham meus bebês. Fui para o quarto, a anestesia passou porém minha filha não chegou. O vazio tomou conta de mim e minha filha não veio para que eu pudesse amamentá-la. Todas as mães sofriam ali comigo, onde eu tinha momentos de choro e outros de sorrisos. Eu não sabia como eu iria encontrar minha filha na UTIN, porque uma coisa são suposições, histórias e o imaginário, outra coisa é a realidade, a sua realidade, o verdadeiro face a face. - "Como será o rostinho da minha filha?", eram tantas as alterações morfológicas. - "Como vai ser quando eu vê-la pela primeira vez?", eu ainda não tinha dimensão dessa nova fase. - "Será que ela estará com muitos aparelhos", sinceramente eu não sabia mais o que pensar. Lorenzo já tinha visto ela, e sentia ele me preparando para quando eu fosse vê-la pela primeira vez. Quando amanheceu eu não queria saber de café da manhã nada, eu contava as horas, minutos e segundos para ver minha menina. Lorenzo era o meu freio pois, ele me controlava para não levantar sozinha, não forçar a cesárea, não andar rápido e para me alimentar, isso porque eu estava bem agitada. A UTIN permitia a entrada dos pais a partir das 08:00h da manhã e eu estava ansiosa para ver minha Eloá. Tomei meu café e nem quis esperar a visita médica, peguei uma toalhinha e de mãos dadas com Lorenzo seguimos em direção a UTIN. Ele me dizia - "Amor, tenta se controlar!", ele me dizia essas coisas sempre porque eu chorava muito. Não queira imaginar estar debaixo de uma pressão a meses onde só intensificava a medida que o tempo ia passando. Quando pensávamos que era o momento de descanso então nos cansávamos mais. Parecia que não tínhamos uma trégua em nada, era só Jesus! Quando chegamos na porta da UTIN meu coração acelerou, ele abriu a porta e entramos. Respirar fundo era o que eu fazia. Escutávamos muitos barulhos de aparelhos apitando o tempo todo o que era agoniante. Ele me ensinou como era a higienização das mãos e sempre dizia - "Não esquece de passar o álcool!". Quanto cuidado, quanto amor Senhor! Eu tentava localizar qual era a incubadora em que ela estava mas eu estava perdida, a ansiedade nesse momento só fez me atrapalhar. De Repente ao me virar de onde eu estava lavando as mãos o Lorenzo me direcionou onde nossa Pequena Guerreira Eloá estava. Me aproximei com passos leves, coração acelerado a ponto de ter um ataque... Eu me posicionei de frente para incubadora; meu Deus! aos olhos naturais era impossível o que eu acabava de ver... Quando à vi pela primeira vez, não contive as minhas lágrimas, pois, tamanha foi a misericórdia do Senhor. Que cuidado, que amor do Senhor para conosco. Lorenzo me abraçou e ali eu senti dor, muita dor, tando física como dor na alma. Ela era tão pequenina que eu só via a mão de Deus ali a sustentando. Eloá estava no respirador, e um caninho em sua boquinha levava oxigênio para o seus pequenos pulmõezinhos, em seus bracinhos acessos para remédios e dietas. Tão pequenininha, tão delicada, tão linda e extremamente FORTE. Eu tocava na incubadora com vontade de tocá-la. Vontade de dar aquele cheirinho gostoso no seu pescocinho, de aninhá-la em meus braços, que desejo de amamentá-la e eu não podia fazer nada disso, não sabíamos se um dia faríamos isso. Eu dizia ao Lorenzo  - "Amor ela é Linda!". Não é e nunca será fácil para um pai e uma mãe receberem a notícia de que seu bebê terá muitas alterações, algumas delas irreparáveis aos olhos humanos. Mas posso garantir uma coisa, com toda tormenta vivenciada ao longo dos meses, ELOÁ FOI O MAIOR PRESENTE QUE PODERÍAMOS RECEBER DO SENHOR! Como aprendemos com a nossa filha, ela nos tornou seres humanos melhores. Como já julgamos o outro sem piedade, como atiramos pedras sem pensar nas feridas que elas poderiam causar. Como enchemos a nossa boca para dizer o que o outro deveria fazer sem ao menos nos colocar no lugar dele. Como erramos Senhor, como erramos! Como mãe de uma Linda menina que tinha algumas particularidades, eu pude entender o que faz um pai e mãe abrir mão de sua vida pela vida daquele que dependerá exclusivamente de você. Isso é Amor, Amor Incondicional! O mesmo amor que Jesus tem para com cada um de nós. Você não precisa ser "perfeito" e Ele te ama e pronto. Sinto que quando minha filha nasceu, uma nova mulher nasceu em mim, disso não tenho dúvida alguma! Eu chorava muito por vê-la naquela incubadora, eu não podia fazer nada, somente orar. Conversamos com os plantonistas pois, o médico dela só iria na segunda-feira, eles não passam visitas nos finais de semana. Fomos até a plantonista onde ela nos recebeu com um lindo sorriso no rosto e nos perguntou: - "Vocês que são pais desse bebê?", no mesmo momento dissemos que sim. Perguntamos como a Eloá estava e ela nos disse que eles não tinham como nos passar muitas informações pois, ela precisava fazer alguns exames que seriam feitos ao longo da semana, mas que a princípio ela estava reagindo muito bem. Tinha que ficar no respirador para poder ajudá-la já que seus pulmõezinhos eram bem imaturos, mas ela estava tendo ajuda e não sendo ventilada cem por cento pelo aparelho, quando ela ficava cansadinha o aparelho fazia o trabalho dela. Ela estava quietinha e vi que uma bolsinha de soro estava com sedativo. Perguntei o porquê do sedativo e ela me disse que a Eloá era bem elétrica. Bem, ela se mexia bastante como quando estava em minha barriga. Nossa, como fiquei feliz quando ela nos disse isso. Eloá estava lutando intensamente pela sua vida, mesmo com tantas negativas ao seu respeito ela estava ali anulando aquelas palavras que uma médica me disse um dia antes dela nascer, onde ela dizia que a Eloá iria morrer. Como agradeci a Deus pela vida da minha filha. Ele não precisava provar pra ninguém que Ele é Deus. Ele é e pronto! Eu já estava vivendo o meu milagre e pra mim bastava. Em um momento a médica disse que iriam fazer o cariótipo da Eloá para terem o Diagnóstico da suspeita de síndrome. Lorenzo disse que eles queriam confirmar se era Síndrome de Patau que dizem ser incompatível com a vida. Ela então não apenas com um sorriso mas agora com brilho nos olhos nos disse que ela não podia afirmar que essa síndrome era realmente incompatível com a vida, pois, a uns anos a trás uma bebê aqui no Espírito Santo nasceu com essa síndrome e outras complicações, viveu por 3 anos, ou seja, ela não acredita que a Síndrome de Patau seja incompatível com a vida, e sim, A SÍNDROME DE PATAU É COMPATÍVEL COM A VIDA SIM. Ela trás muitas complicações pois, pode afetar múltiplos órgãos levando o bebê a óbito. Existem muitas outras histórias que tive conhecimento através da internet de outros pais de várias partes do Brasil que tem filhos já adultos e outros em diferentes fases da vida com síndrome de Patau, onde a medicina diz que é incompatível com a vida. Histórias lindas. Tem trabalho? Sim, tem trabalho. Tem Amor? Sim, tem muito amor. Independente das dificuldades, todas essas crianças merecem uma chance, pois, o tempo de cada um aqui, só o Senhor é quem sabe. Com tudo sobre essa síndrome, isso não tirou a nossa Esperança no Senhor, pois, para Ele não existem impossíveis, e o que Ele viesse a fazer, Amém! A médica nos incentivou a buscar a história da Pequena Ester, uma história linda; ela tinha alguns probleminhas diferentes que a nossa filha, e a semelhança como pais, tínhamos o mesmo desejo... Ter nossas pequeninas conosco independente das dificuldades que iríamos enfrentar. Ela nos deu muita força e nos incentivou a não desistirmos. A situação da Eloá era bem crítica, mas que tudo poderia acontecer. Nos disse para amarmos muito ela enquanto estivéssemos ali e confiar pois, era um dia de cada vez. Em pé ali cada vez que chegava uma enfermeira para mexer nela, eu queria saber o que elas iriam fazer, que remédios eram aqueles, se ela tinha feito cocô e xixi e etc... Foi quando vi uma bolsa coletora de urina e fui levando meus olhos até onde aqueles caninhos iam, e percebi que Eloá estava com uma sonda. Que dor eu senti por minha filha, tão pequenininha e já sofrendo tanto. Logo perguntei - "Ela sente dor?", e a enfermeira me disse que naquele momento ela não estava sentindo dor pois, estava sedadinha. Eu ficava imaginando o momento em que o sedativo passasse. Como eu queria sentir tudo pra ela, como eu queria trocar de lugar com ela. Um lugar de muita dor e sofrimento, é estar com um filho dentro de uma UTIN. Independente das circunstâncias, a UTIN é um sofrimento sem fim, por menores que sejam as dificuldades, é um lugar de muito sofrimento. Um sofrimento que não teria como ser anulado, para que viesse o sarar era necessário passar por tudo aquilo. Ah, como tive ensinamentos nessa Utin, mas isso é assunto pra outro momento. Fiquei por horas de pé em frente a incubadora admirando a obra perfeita do Senhor. Eu não me cansava de admirá-la, eu a amava e ao mesmo tempo, como chorava. Não sei por quanto tempo eu fiquei ali com ela, mas foram horas assim. Por fim Lorenzo me levou para o quarto pois, eu estava bem emotiva. Como sempre ele controlava suas emoções para poder me ajudar, e era nítido a aflição em sua face. Assim que ele me deixou no quarto não demorou muito ele decidiu ir para casa tentar descansar. Combinamos com minha cunhada irmã do Lorenzo para passar aquela noite comigo, Veruska o nome dela. Ele pediu que eu não ficasse fazendo extravagâncias e que eu descansasse ao máximo. Assim que ele foi para casa vi em meu celular que muitos queriam fotos da Eloá, queriam vê-la, mas não era bom o uso do celular na Utin e mesmo que fosse possível, eu não queria que as pessoas vissem como ela estava. Era um sofrimento enorme ver ela com vários fios, respirador, acessos, Senhor, isso era de mais pra mim. Eu não queria expor a nossa filha. Assim que minha cunhada chegou conversamos um pouco e ela queria muito ver a Eloá. Fiz o que Lorenzo fez comigo, à preparei para poder vê-la, mas as reações só saberíamos quais seriam na hora então a levei na Utin. Ao entrar lá fizemos a higienização das mãos para poder se aproximar da bebê. Assim que chegamos onde ela estava eu não conseguia me segurar, eu apenas chorava e quando olhei para minha cunhada, o seu olhar era de muita dor. Eles tinham colocado a Eloá no banho de luz, e a impressão que eu tinha era que aquela luz estava queimando a pele dela. Uma enfermeira que estava lá me viu próxima a incubadora, foi quando lhe perguntei se eu poderia tocar na Eloá e ela me disse que sim, me ensinou como abrir e fechar a incubadora e lá fui eu. Fiz tudo conforme ela havia me ensinado, foi a primeira vez que a toquei. Passei a mão nas suas mãozinhas, no seu pequeno rostinho e as minhas lágrimas iam caindo. Meu Deus, que emoção foi poder sentir o seu calor ainda que pelo toque das minhas mãos. Foi algo tão indescritível aquele momento, simplesmente único. Sabe, era muito difícil estar ali, entrar ali, vê-la e não poder fazer nada. Talvez alguns leiam e pensem - "Nossa, ela só sabia chorar!", nessa luta que passamos aprendi que eu precisava chorar, e chorar no lugar certo. Nenhuma das minhas lágrimas foram apenas de um momento difícil, mas com elas eu estava dizendo ao Senhor - "Pai, sem a sua presença eu não consigo, sem o Senhor é impossível passar por isso, me socorre!". A Palavra de Deus diz: "Os que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão." (Salmos 126:5); Como creio nessa palavra! Eu estava debaixo de uma pressão muito grande, eu não questionava e não duvidava de nada, mas tinham momentos em que a dor era tamanha que eu queria sair correndo daquele hospital. Eu tentei controlar o meu emocional para que não viesse a depressão pós parto. Das minhas duas gestações eu tive um princípio de depressão se é que posso dizer assim. Foram momentos difíceis em que eu absorvi e acabou interferindo no meu pós parto. Eu chorava muito, as vezes não queria pegar o bebê ou, eu não conseguia produzir leite mesmo o bebê mamando... Isso sem ser um "grande problema", mas naquela época os problemas que eu vivenciava eram grandes de mais aos meus olhos. E agora passando por tudo muito mais sério com a Eloá, tive medo disso acontecer mais uma vez pois, eu precisava estar ali para cuidar da minha filha. Que luta contra as minhas próprias emoções. Digo que é possível sim você não se deixar levar pelas circunstâncias, mas talvez para outros sejam mais difícil lidar com isso. Nunca se deixe abater e não se condene se isso acontecer com você, não somos impermeáveis, então, se absorver de mais os problemas busque em Deus pois, é dEle que vem o nosso socorro. Não estamos isentos a nada, e digo que estamos suscetíveis a tudo, e infelizmente a depressão também. Não julgue alguém que está passando por um problema assim, talvez ela esteja precisando de socorro. Muitas vezes eu não tinha palavras para orar e minhas lágrimas eram um clamor de socorro. Ore pelo seu irmão em Cristo, amigo, parente e etc... Talvez ele não tenha mais forças para orar e suas lágrimas são apenas gritos de socorro. Tenha um olhar de misericórdia sempre, em Nome de Jesus! Aquele sábado eu e minha cunhada conversamos muito e eu já dizia que queria muito que me dessem alta no domingo. Eu não sabia o que era pior, estar ali e não poder fazer nada ou ir para casa e deixar minha filha ali e ter que voltar todos os dias naquele hospital. O hospital é cansativo, ficar muitos dias dentro de um, sinceramente dá para ficar louco. Eu já estava há quase cinco dias e já mostrava sinais de que eu iria surtar. No decorrer daquele sábado eu visitei minha filha na Utin e eu apenas podia passar as mãos nela e nada mais. Eu chorava, eu sofria, sentia fortes dores em minha cirurgia pois, no momento em que eu chorava, meu corpo inteiro contraía. Fiquei na Utin até a visita dos pais acabarem que era às 18:00h e ali me despedi pela primeira vez da minha filha. Estávamos no mesmo Hospital, separadas por alguns corredores e mais um dia eu teria que ficar sem ela. Estávamos tão perto mas ao mesmo tempo tão longe uma da outra. Ah, seu eu pudesse pegá-la em meu colo, era um sonho, um grande sonho que dependia somente da permissão do Senhor.


Entrada da Utin

30 de Abril 2017
 ALTA SEM ELA
Não era possível uma noite de descanso naquele hospital, eu já estava ficando louca. Assim que amanheceu o Lorenzo havia me dito que outra pessoa iria passar o dia comigo, a princípio eu disse que não precisava pois, eu achava que me dariam alta naquela manhã. Pediu que minha cunhada fosse logo para recepção para tocar com ela, Zilma é o seu nome. Quando ela chegou na portaria a minha cunhada se despediu de mim bem mexida com toda nossa situação. Assim que ela foi para casa eu mais uma vez estava na expectativa para visitar a Eloá. Na Utin eram somente os pais que podiam entrar, levei minha cunhada no dia anterior mas sabendo que eu poderia ser repreendida, mas ninguém nos chamou a atenção. Acredito que por toda a circunstância era um alento ter alguém nos acompanhado na Utin, e no nosso caso, acredito que faziam "vista grossa". Assim que a Zilma entrou no quarto eu disse que veria a Eloá, pedi que ela aguardasse no quarto para caso a médica passasse para me dar alta então ela poderia me ligar. Mais uma vez eu fui vê-la, e entrar por aquelas portas eram uma dor sem fim. Quando eu entrei na Utin, eu vi que uma enfermeira estava dando banho nela, aprecei-me em lavar as mãos para poder acompanhar. Meu Deus, minha filha era tão pequenininha, extremamente frágil. Enquanto a enfermeira ia passando a gaze no seu corpinho com aquela água morninha, Eloá abria a sua boquinha com expressão de choro mas o som não saía devido ao caninho em sua boquinha. Seus bracinho se mexendo de um lado para o outro, suas perninhas se levantavam e chutavam o lençol que ficava enroladinho para simular um útero materno. Eu ali vendo aquela cena e pensava: "Não tenho nem o direito de cuidar da minha filha, nem um banho posso dar, ela esta fazendo o que eu devia fazer, mas não posso." Eu abria a porta da incubadora e dizia a Eloá - "Não chore minha filha, mamãe está aqui com você, mamãe está aqui!". O máximo que eu poderia fazer era tocar nela com minhas mãos. Fecho os meus olhos e vejo seus pequenos detalhes como se eu estivesse lá. Ela era muito linda. Aquela pequena mãozinha apertando meu dedo, quanta emoção! Quando a enfermeira foi lavar o seu bumbum e sua genitália eu chorei, como chorei. Ela ainda estava com a sonda urinária, que vontade de tirá-la daquele hospital. Quanto sofrimento! Assim que a enfermeira terminou, ela pediu que eu não ficasse com a incubadora aberta por muito tempo, pois, ela precisava ficar bem aquecidinha e depois do banho sua temperatura sempre caía um pouco. Fui falar com a plantonista daquele domingo e perguntei novamente tudo sobre minha filha e ela foi tão humana... Ela começou falando que a situação da Eloá era bem crítica, visto a cardiopatia que já havia sido confirmada ao nascer, os Rins não estariam trabalhando direito por esse o motivo da sonda urinária, ela ainda não havia feito cocô e não tinha tido nenhuma dieta com leite materno, apenas dieta parenteral que é direto na veia. Eles acreditavam que era por causa da possível síndrome de Patau, pois, ela causa muitas complicações. Eu chorava tanto, tanto; foi quando ela me abraçou e disse assim pra mim - "Eu sei exatamente como você se sente, eu fiquei grávida e com apenas oito semanas eu perdi meu bebê sem saber o porquê. Sabe, ame muito sua filha enquanto você estiver aqui, passe muito amor pra ela... Não podemos afirmar que ela vai morrer e nem por quanto tempo ela permanecerá assim. Faça o que estiver ao seu alcance apenas. Descanse pois, sua filha vai precisar muito de você e ame-a muito." Ela me dizia estas palavras com lágrimas nos olhos, me abraçou e chorou comigo. Que momento especial foi esse. Com o mesmo consolo que recebemos do Senhor, iremos consolar outras pessoas em suas tribulações. As palavras dela estavam sendo um consolo pra mim naquele momento. Eu disse que me dariam alta naquele domingo e ela me disse para ir para casa e não ficar lá. Mesmo estando com ela eu não poderia fazer nada, e eu precisava me recuperar da cirurgia. Disse com o coração apertado que iria para casa mas que voltaria todos os dias para vê-la. Que angustia Senhor! Após conversarmos eu fiquei ao lado da minha filha, ali eu conversava com ela e dizia o quanto ela era especial. Logo eu disse que a amava muito e que precisava voltar ao meu quarto pois, a médica passaria para me dar alta. Eu falava para Eloá e a impressão que eu tinha era que ela entendia tudo, pois, quando ouvia a minha voz ela acalmava. Que amor meu Deus! Deixei ela mais uma vez ali e pela segunda vez me despedi dela. Enquanto eu me dirigia ao quarto a Zilma me ligou dizendo que a médica tinha me dado alta. Nossa eu mal podia acreditar que eu iria para casa e assim tentar descansar. Aprecei-me em arrumar minhas coisas e fui logo avisando o Lorenzo para me buscar. Como eu mostrava ser durona, mas por dentro eu era apenas cacos quebrados. Eu estava prestes a deixar minha filha ali sozinha, sem a minha presença e me sentindo a pior pessoa do mundo. Eu não queria mais saber daquela maternidade, conheci pessoas incríveis, mas também foi onde passei as maiores pressões em minha vida. Arrumei todas as minhas coisas, me troquei, peguei a minha alta e ao sair muitos me cumprimentavam e me davam forças pois, acredito que peguei todos os plantões daquele hospital. Sei que tinham muitos ali torcendo pela recuperação da minha filha e assim nos desejavam o melhor. Antes que fossemos aguardar na recepção pedi que a Zilma me aguardasse uns minutos pois, eu iria ver a Eloá mais uma vez... Eu já entrei na Utin chorando muito, com o coração extremamente apertado em ter que deixá-la lá. Fiquei debruçada na incubadora, olhando aquele pedacinho de mim, clamando ao Senhor por misericórdia. Orando pela sua vida para que o Senhor a guardasse em todos os momentos, que a livrasse daquela situação e que acima de tudo, Ele viesse fazer a vontade dEle e não a nossa. Como eu a amei, como eu me entreguei ali, eu rasgava meu coração ao Senhor, um sofrimento sem limites. Me despedi mais uma vez, e nem um beijo eu podia dar, apenas com minhas mãos tocar seus lindos detalhes. - Obrigada Senhor, era o que eu falava. Fomos no banco de Leite pois, eu já começaria a retirar o leite para quando a Eloá começasse a dieta com leite materno, recebesse o meu. Peguei o vidro, mascará e uma folha onde me explicava como era o processo de retirada do leite materno. Tudo muito reservado, e com muito cuidado. Saindo daquele hospital com um dor rasgando em meu peito impossível de controlar. Uma parte de mim ficava para trás. Zilma com muito carinho me dizia para ser forte, mas suas palavras eram um som bem distante dos meus ouvidos mesmo estando ao meu lado, pois, eu só ouvia meus gritos de dor dentro de mim e nada mais. Ali naquela recepção eu não via o momento do Lorenzo chegar, eu achava que assim que eu fosse embora seria menos pior, mas a sensação foi outra. Quando vi o carro se aproximando eu apenas olhava profundamente, engolindo cada vez mais o choro dentro de mim, desejando aquele momento nunca vivenciar. Ele parou o carro, saiu e pegou as minhas malas, foi então quando entrei naquele carro, me joguei nos ombros da minha cunhada e desabei. Não consigo explicar tamanha dor, só de lembrar eu me sinto agoniada. Quanta luta Senhor, quanto sofrimento... Não temos como dimensionar certas situações sem que elas aconteçam. Nunca pensei que fosse tranquilo ter que deixar por um tempo minha filha no hospital, mas sinceramente eu também não achava que seria tão difícil. Eu seguia para minha casa e em minha cabeça estava apenas a Eloá. Eu só sabia pensar nela, me achando uma mãe horrível por deixá-la ali sozinha. Passamos na minha sogra para ver as crianças e deixar a Zilma na casa da sogra dela que é próximo. Meu Deus, quando minha sogra me viu em seus olhos eram apenas preocupação e sofrendo junto comigo por nossa menina. Eu não abria a minha boca nem para falar pois, eu certamente iria chorar. Meus filhos estavam com ela e, eles vieram até mim e a primeira pergunta que me fizeram foi - "Mãe, cadê a Eloá?", sabe como respondi? Respondi com um sorriso acanhado, seguido de um abraço e um beijo. Após segurar todas as minhas emoções para os nossos filhos eu então consegui falar - "Sua irmãzinha ficou no hospital porque ela é bem pequenininha. Ela precisa ficar fortinha e só assim é que ela vai poder ir para casa, então, vamos orar." Nem do carro saímos e ali mesmo me despedi dos meus filhos e fui para minha casa. Minha sogra pediu que eu deixasse eles com ela para eu poder descansar melhor, mas que no outro dia ela os levaria, pois, eles teriam aula e ela poderia me ajudar em casa, e assim fizemos. No trajeto para casa tentávamos falar de muitas coisas para eu não ficar emotiva. Sabe uma bomba armada que basta um pequeno toque para ativá-la? Pois é, assim eu estava. Antes de irmos para casa paramos numa farmácia para comprar meus remédios que a médica havia me passado. Eu tinha pego com minha cunhada uma bomba de tirar leite pois, eu iria começar a estimular a produção de meu leite. Eu precisava comprar o coletor dessa bombinha e resolvi entrar na farmácia, que foi a pior coisa que eu fiz naquele dia. Eu achava que estava tranquila quanto a muitas coisas e na verdade eu não estava. Ao entrar e ver várias coisinhas de bebê e não ter minha filha ali comigo, a dor me consumia. Voltei para o carro arrasada, sem contar que eu não consegui comprar o coletor. Assim que terminamos de comprar os remédios seguimos para casa. Eu por muitas vezes conversei com Lorenzo que eu não saberia lidar com a falta dela e ter muitas coisas em casa, não sei, mas o sofrimento parece que só se intensifica quando assim acontece... Bom, eu pensava assim, e assim só se confirmou. Quando paramos na frente do prédio ali meu coração já disparava, era surreal aquilo tudo. Já abri o portão com lágrimas em meus olhos. Rapidamente entramos no elevador e ao chegar no andar de casa, eu mal podia acreditar. Sabe aquela história da ficha cair com o tempo? Então, minha ficha começou a cair naquele momento onde ao abrir a porta da minha casa, ao invés de levar um cheirinho de bebê comigo, eu sentia literalmente um cheiro de casa vazia, seguido de um imenso vazio dentro de mim. Quão difícil foi esse momento, você sabe que algo não está completo, e percebe que você está pela metade pois, parte de você ficou para trás naquele hospital. Assim eu me sentia, pela metade. Minha cunhada ficou comigo por um tempo me ajudando com o teu apoio e com suas palavras de encorajamento. Como chorei nesse dia, meu Deus, como chorei. O mais lindo era o carinho e que cuidado do meu esposo comigo. Como fui amparada, como eu era consolada por ele e com o mesmo cuidado assim eu o retribuía. Recebemos a visita do Jessé e Fernanda na parte da tarde onde conversamos, e sorrimos por alguns momentos. Eles foram tão presentes nos momentos difíceis que enfrentamos. Toda gratidão a eles é pouco. Aquele domingo era um domingo difícil de se esquecer, e naquele mesmo dia já decidíamos como seria no dia seguinte. Desde o nascimento da Eloá eu não havia tido um tempo para poder descansar, quando eu não estava caminhando no corredor da maternidade, eu estava na Utin e eu não havia tido um parto normal, foi uma cirurgia, eu mais do que nunca precisava me recuperar e recuperar bem. Todos entendiam isso, apenas eu que não parava para entender. Fui muito negligente comigo mesma, não levando em conta os risco que eu corria; eu só conseguia pensar e pensar na Eloá e nada mais. Literalmente, mãe não racionaliza muito. E ali ele me disse que na segunda-feira que seria feriado do Dia do Trabalho, não iríamos no hospital. Lorenzo já estava com sua mente extremamente preocupado com a Eloá e imaginar uma complicação pós cesárea era de mais pra ele. E mais uma vez eu me condenava por não ver minha filha, e ali fui me dividindo para conseguir suprir com os filhos em casa e com a Eloá no hospital. Sabe, eu não conseguia dormir, eu deitava em minha cama e de repente eu já estava com os olhos arregalados. Eu saía da minha cama e ia para minha sala ChORAR; Chorar e Orar ao mesmo tempo, eu conversava muito com Deus nos meus momentos de intensas aflições, digo intensas pois, em alguns momentos elas se intensificavam muito, e eram nesses momentos onde eu não conseguia orar com palavras e sim apenas chorar. Chorar com o Senhor era o meu sobrenome. Era dessa mareira que eu conseguia forças para continuar...


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