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Eloá na Utin - Os dias mais difíceis de nossas Vidas!

01 de Maio 2017
TIRANDO O SEU LEITINHO
Vocês podem imaginar como foi aquela segunda-feira, não é mesmo? Como era de se esperar, a minha sogra foi para nossa casa levar nossas crianças e assim nos ajudar. O que dizer da minha sogra, ela foi espetacular! Apesar de tê-la ali para nos ajudar, eu não queria saber mesmo de ficar parada. Eu me distraia organizando pequenas coisas em casa. O que eu não podia era ter a mente vazia. Aquele dia foi um dia de visitas da minha família, onde conversamos bastante. Eu e Lorenzo ficamos surpresos com tanta gente. Ao abrirmos a porta para que eles entrassem eu comecei a contar... um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove... Meu Deus, ficamos maravilhados, pois, até o vovô que é difícil de sair de casa, nos visitou nesse dia. Foi muito divertido e acabou sendo uma distração para todos nós. Apesar das perguntas serem sempre em torno da situação, acabávamos nos distraindo com outros assuntos também. Após todos irem embora, foi nesse mesmo dia que tomei coragem para começar tirar o meu leite. A princípio foi tão difícil fazer aquilo, não pela dor física, mas pela dor na minha alma. Foi extremamente difícil, me doía não tê-la comigo para que ela mesma pudesse sugar. Eu fui para o quarto da Yasmin e por opção ficava sozinha nesse momento. Era o meu momento, era a minha dor. Eu me derramava enquanto retirava o meu leite. Ah! foi um processo tão doloroso pra mim, e ao mesmo tempo incrível pois como saía tanto leite. Glórias a Deus, Ele é maravilhoso. Agora o que eu mais queria mesmo, era que a terça-feira chegasse logo, pois, a veríamos novamente. Em minhas orações eu suplicava ao Senhor para que os médicos tirassem a sonda da Eloá, isso era o que mais me doía ao vê-la ali. Eu era convicta de que o Senhor faria essa obra. E ali eu o clamava sempre nas madrugadas. Minhas madrugadas com Deus.
02 de Maio 2017
RESPOSTA A MINHA ORAÇÃO
Acordar naquela terça-feira era um misto de tudo. Na mesa do café eu sentei com a minha família e ali mais uma vez eu chorei de dor. Meus seios amanheceram cheios e eu não tinha minha filha para que ela pudesse mamar, meu peito latejava de dor e o mais incrível era ele estar cheio sem nem ao menos ter sido estimulado por um bebê, a ordenha com as mãos não tem a mesma eficácia... Coisas de Deus mesmo! Naquela manhã eram as mesmas rotinas como se eu estivesse indo fazer um exame. Nos organizamos para deixar as crianças na escola e seguir para o hospital, e assim fizemos. Quanta ansiedade e medo; medo de ouvir algo que pudesse nos entristecer ainda mais do que já estávamos. Ao chegarmos no hospital fizemos nosso cadastro para poder visitar nossa filha, afinal, éramos pais de Utin. Assim que entramos na Utin, vimos que tinha uma enfermeira na incubadora da Eloá, onde mais uma vez nos apressamos para ver o que ela estava fazendo. Ao chegar vimos ela trocando a fraldinha da Eloá e logo chorei de alegria, pois, ela não estava mais com a sonda urinária e sim, estava urinando bem. Glória a Deus!!! Eu dizia ao Lorenzo - "Amor o Senhor ouviu a minha oração na madrugada, eu pedi que a Eloá não viesse permanecer com a sonda e olha isso, ela está sem a sonda, Deus é Lindo!" Como me alegrei naquele dia, ela estava bem ativa se mexendo bem e com a boquinha aberta como se quisesse chorar, mas não podíamos ouvi-la, pois, o caninho em sua boca não permitia o som de sua voz sair. A enfermeira precisava arrumar os paninhos que Eloá ficava deitada, e ela me perguntou se eu podia segurá-la, eu logo disse: - "Claro, claro que posso!" Eu abri as duas portinhas da incubadora e segurei ela com as minhas mãos apenas. Ficamos admirados, pois, ela logo se acalmou; eu chorava de alegria com o Lorenzo aquele momento. Foi por alguns minutos, os minutos mais encantadores de nossas vidas, minutos que jamais irei me esquecer. Que emoção Senhor! Minha filha, como era linda, como era delicada, uma pele tão frágil, princesa linda, obra perfeita do Pai. Procuramos o plantonista daquele dia pois, queríamos informações sobre ela, e mais uma vez não poderiam nos passar muitas informações pois, o pediatra dela passava pela manhã e naquele dia fomos na parte da tarde. O que ela nos disse não mudou muitos dos outros dias. A boa notícia era que nenhuma intercorrência havia tido. O quadro de saúde dela era acompanhar dia após dia e ver a sua evolução. Os medicamentos eram para o tratamento de uma infecção que nos disseram ser comuns em bebês prematuros. Eu gostava mesmo era de conversar com as enfermeiras pois, elas cuidavam diretamente da Eloá... Elas a tocavam mais vezes, a trocavam, davam banho e viam com mais frequência a nossa filha. Os médicos avaliavam os parâmetros que esses enfermeiros e técnicos anotavam. Eram presentes também, mas o toque diário eram sempre dos técnicos e enfermeiros. Naquele dia a enfermeira me perguntou se eu tinha levado as coisinhas da Eloá, pois, ela usaria fraldas descartáveis, meias, luvinhas e apenas paninhos como cueiros. Eu e Lorenzo dissemos que não haviam nos pedido e que pelo contrário, nos disseram que não precisávamos levar nada. Mas ela nos disse que podíamos levar sim, e a Eloá ficaria com as coisinhas dela. Ai! ficamos tão feliz pois, de algum modo sentíamos que ela estava reagindo bem, e o fato de pedirem suas coisas nos enchiam de Esperança. A Esperança em ela ficar logo forte simplesmente crescia em nós. Ficamos ali com ela conversando e admirando nosso milagrinho, e foi nesse dia que o Lorenzo tocou na Eloá pela primeira vez. Ele tinha medo de machucá-la por ela ser muito frágil, mas eu o encorajei a passar a mão em seu rostinho, e a pegar em sua mãozinha. Em resposta ao seu toque, Eloá com sua pequena mãozinha apertou forte o seu dedo o deixando muito emocionado. Que emoção vê-lo superar o seu medo, que emoção foi poder vivenciar todos esses momentos com ela. Ele a tocou, conversava com ela, carinhosamente chamando-a de filha. Que momento memorável, que momento único e inesquecível. Após muito amá-la, fomos conversar com a Assistente Social da Utin para atualizarmos os nossos dados. Explicamos como era a nossa rotina e que faríamos o possível para estar lá todas as manhãs, pois, tínhamos outros filhos que dependiam de nós e eu não podia ir sozinha devido estar operada. Ela apenas nos disse que também tinham outras mães ali operadas e que iam ficar com seus filhos, e que precisávamos fazer um esforço também. A arrogância com que ela falou comigo, foi extremamente diferente de dias antes. Acho que ela pensou que talvez não queríamos estar ali, ou pensou que iriamos abandonar nossa filha. É passar por coisas assim que nos faz tornar seres humanos melhores, sim isso é uma verdade. A gente só compreenderá a dor do outro quando passarmos por ela, e depois disso seremos mais cuidadosos nas nossas palavras. Não desejo pra ninguém vivenciar o que vivemos nesse tempo, como fomos muitas vezes massacrados com palavras desnecessárias sem um pingo de misericórdia. Infelizmente essas coisas acontecem a muitos em diferentes situações. Mais uma vez aqui peço que: tenham um olhar de misericórdia para o seu próximo. Pense que isso poderia estar acontecendo com você ou alguém que você ama muito, tente se colocar no lugar do outro se assim for possível. Quão triste eu fiquei ao ouvir ela falar daquela forma. Eu já me sentia horrível por não ter ido vê-la no dia anterior. Sei que eu não precisava me culpar assim, mas era um misto de emoções e naquele momento quão infelizes foram as palavras dela diante daquela circunstância. Se não é o Senhor por nossas vidas, não saberíamos como enfrentar cada afronta que recebíamos. Após aquele momento de infelicidade, voltamos para a Eloá e permanecemos com ela por mais um tempo. Nós ainda não tínhamos feito o seu registro de nascimento pois, os médicos esperavam a conclusão de algum exame para poderem adicionar as informações na folha amarela que recebemos do hospital para registrar o bebê. Fui na maternidade em busca desta folha para o registro mas eles não haviam concluído ainda, tínhamos que esperar um pouco mais. Não podíamos ficar lá até a visita terminar pois, estávamos de carona com o primo do Lorenzo. O tempo em que ele foi fazer suas coisas, foi o tempo que ficamos com nossa pequena. Durante essa visita ficamos sabendo que a Eloá teria que fazer uma ultrassonografaria da Transfontanela na manhã de quarta-feira, no dia seguinte, isso para saber se ela teve alguma lesão cerebral. A princípio não sabíamos se estaríamos lá pela manhã, visto que não estávamos com carro e nem poder pagar um táxi não tínhamos como, não queríamos incomodar mais ninguém, já estávamos sendo bem ajudados e era o suficiente. Ali nos despedimos de nossa filha, a abençoamos e oramos por ela e mais uma vez a deixamos contra nossa vontade. A dor do até logo é o que me consumia. Se eu pudesse eu teria ficado dias ali com ela, mesmo que aquilo me enlouquecesse, mas era um processo que teríamos que passar. Glorifico sempre ao Senhor pois, foi Ele quem nos sustentou, nos amparou... Foi nEle que tivemos forças para caminhar e quando não tínhamos mais forças, Ele vinha e nos tocava só para nos mostrar que não estávamos só. O que seria de nós sem a Presença do Espírito Santo? Sinceramente, não seríamos nada!
03 de Maio 2017
QUEM TEM AMIGOS, TEM TUDO!
Naquela quarta-feira infelizmente não iríamos vê-la mais uma vez. Por mim eu iria de ônibus mesmo, mas eu tinha que me conter. Foi um dia de muita angústia como os outros pois, o desejo de vê-la me consumia, mas eu não podia fazer nada. O decorrer daquele dia eu sempre tinha pessoas me perguntando como estávamos, se precisávamos de ajuda em casa entre outras coisas... Todos os dias uma amiga maluquinha com um coração imenso me mandava mensagens, me ligava se preocupava tanto comigo que nem sei explicar, Ludymilla o nome dela. Nesse dia ela foi nos visitar logo após o Lorenzo deixar as crianças na escola. Conversamos, rimos pois, é impossível não rir com ela, e conhecemos um pouco de seu testemunho, e suas experiências com a Utin. Uma pessoa guerreira e com um grande coração. Aqui está alguém que me perturbava para ficar quieta, hahaha bem que eu tentava, mas era quase que impossível. Ela foi um máximo, me recordo com imenso carinho de todo apoio e preocupação que ela tinha comigo. Nesse mesmo dia nossa pastora nos ligou e perguntou se ela poderia visitar a Eloá, com certeza dissemos que sim. Mesmo com suas aflições, ela não deixou de nos dar o seu apoio. Ela foi até o hospital para vê-la pois na quarta-feira era dia de visita também, porém, não sabíamos que os pais precisavam estar juntos para outra pessoa poder entrar, e infelizmente ela não pôde ver a  Eloá. Uma tristeza isso, mas críamos que teriam outras oportunidades para visitá-la. Como fui amparada por várias pessoas, quantas novas amizades nasceram nesse momento difícil em nossas vidas, e quantas outras só se fortaleceram. Como Deus é cuidadoso em tudo, como na palavra dEle diz: "Em todo tempo ama o amigo e para angústia nasce o irmão." (Provérbios 17:17). Quantos irmãos nasceram nesse momento de dor, não foram poucos. Como vale a pena cultivarmos amizades, como é gostoso poder desfrutar desta grande riqueza. Quem tem amigos, tem tudo. Todo esse processo com a Eloá era muito difícil, matávamos um gigante por dia. Meus gigantes ali eram meus medos, aflições, incertezas e minha própria mente. Eu tinha que alimentar minha mente constantemente com a palavra do Senhor. Quantas vezes eu cantava ao Senhor - "Aquieta minh'alma, faz meu coração ouvir tua voz..." Como escutamos vozes e vozes nesses momentos, e o que eu mais pedia é para ouvir a voz do Senhor. Não queria tomar decisões por minha própria vontade mas que eu estivesse sendo verdadeiramente guiada pela voz de Deus. Eu e Lorenzo já nos preparávamos para vê-la na quinta-feira bem cedinho e assim saber como foi a Ultrassonografia que ela teria feito naquela quarta-feira. Que viéssemos ter boas notícias, era o que pedíamos em oração.
04 de Maio 2017
O GRANDE SUSTO
Como na terça-feira a enfermeira havia nos dito que a Eloá poderia usar suas coisinhas, logo começamos preparar uma bolsa com algumas coisas que tínhamos em casa, porém, eu não havia feito enxoval. Tínhamos apenas algumas fraldas que ganhamos, alguns cueiros que ganhei da minha cunhada, e algumas roupinhas que eu ganhei de umas amigas, e algumas roupinhas de bebê que eu já tinha das crianças, mas não tinha bolsa de maternidade. Peguei uma bolsa emprestada com uma amiga, pois, minha sogra compraria no final de semana as bolsinhas para Eloá. Quando eu contei que poderíamos comprar algumas coisas pra ela, todos assim como nós se encheram de esperança pois, de alguma forma ela estaria tendo uma boa evolução. Assim que peguei dias antes a bolsa, logo arrumei com todas as suas coisinhas. É uma emoção tão grande para uma mãe poder organizar cada coisinha de seu bebê que está para nascer, algo que eu não pude fazer. Apesar de não ter tido a oportunidade de fazer com antecedência, eu estava curtindo muito aquele momento. As crianças me ajudaram a montar sua malinha com muita alegria e com um desejo constante de conhecer a irmãzinha. Como de se esperar, bem cedinho acordamos e fomos ao Hospital ver a Eloá. Bem ansiosos para poder conversar com o médico dela e saber quais seriam suas expectativas a respeito dela. Quando chegamos no hospital rapidamente nos identificamos, e assim que deu 08:00hrs nos permitiram entrar. A Utin pela manhã é bem agitada, pegamos troca de plantão, um entra e sai de pessoas que nos deixa até sem muita ação. Fomos lavar nossas mãos como sempre para tocar na nossa pequena, não víamos a hora de fazer isso. Quando nos aproximamos de sua incubadora, tomamos um grande susto ao olhá-la. Ficamos pasmos quando a vimos naquela quinta-feira. Uma enfermeira estava trocando ela e eu a peguntei o que tinha acontecido, e ela nos disse para conversarmos com o médico dela. Eloá diferentemente dos outros dias, estava irreconhecível. Saímos de lá na terça-feira com ela extremamente ativa, se mexendo bem, com muitos reflexos, e naquela manhã ela estava absurdamente inchada e roxa. Seu pescocinho sumiu devido o inchaço nessa região, o que não permitia ela nem abrir sua boca de tão rígida que estava. Seu pequeno pezinho estava como se fosse uma bolinha, sua barriguinha parecia que ia explodir, e com uma mangueirinha em sua boca que estava colhendo uma secreção preta de dentro de seu estômago. Meu Deus, chegamos a pensar que talvez eles a teriam pego de forma brusca pois ela estava irreconhecível. Se eu já chorava, nesse dia eu não sei o que senti no primeiro momento pois, eu não conseguia liberar uma lágrima. Não sei, mas aquilo me assustou, eu não imaginava vê-la daquela forma, eu fiquei muito impressionada. Conversamos com o médico dela onde ele nos disse que ela estava tendo umas intercorrências. O coraçãozinho dela não estava bom o quanto pensávamos. Apesar dos primeiros dias ela ter os seus batimentos cardíacos e saturação de oxigênio (A saturação de oxigênio mede a quantidade de hemoglobina no sangue que está saturado com oxigênio) de acordo para ela, o seu coração começou a dar sinais de que iria falhar em algum momento. O médico nos disse que ela faria um exame na sexta-feira que se chama Angiotomografia do Coração pois eles teriam identificado mais um problema no coração da Eloá além do que eles já tinha visto que se chama Interrupção do Arco Aórtico. Não fazíamos ideia do que era aquilo, e ficamos arrasados. Nesse exame teríamos que estar presentes, pelo menos um dos pais pois, ela iria de remoção na Uti Móvel para outro hospital. Não falou muito a respeito da evolução dela, pois, ele precisava desse exame para poder pensar em uma possível cirurgia. Perguntamos sobre a Ultra da Transfontanela e ele nos disse que não haviam feito. Primeiro: O aparelho estava quebrado; Segundo: A pessoa que faz estava de férias. Simplesmente não fariam pois tinham muitos imprevistos. Senhor, que situação difícil era aquela, não adiantava nos estressar, brigar, nos alterar para que algo viesse ser feito. Se os homens não podiam fazer, o meu Deus poderia fazer além. Eu não cessava em orar, sempre clamando para que o Favor do Senhor viesse sobre nós. Após conversarmos e já confirmarmos nossa presença cedo para acompanhá-la no exame, ficamos ali em frente a sua incubadora. Lorenzo ficou em pé de frente para Eloá e ali ele não dizia mais nada. Foi a primeira vez que o vi chorar na Utin, eu sei como eu estava, como eu sofria, mas cada vez que eu o via chorar, isso me quebrava. Temos a tendência de achar que o homem é durão, mas na verdade eles sofrem tanto quanto uma mulher. Nos abraçamos e juntos choramos. Uma enfermeira estava mexendo na Eloá para ver se ela respondia aos estímulos, pois, naquele momento o efeito do sedativo já havia passado e ela não conseguia reagir sozinha. Sua saturação de 95%, caiu para 88 oscilando 90% e sabíamos que isso não era favorável para ela. Perguntamos se ela havia feito cocô e a enfermeira nos disse que até aquele momento ela não tinha feito sozinha, foi então que o médico disse para colocarem um supositório para poder ajudar. Como ela nasceu com Onfalocele, é mais difícil do intestino trabalhar, demora mais que o normal. Olhar para ela era uma mistura de sentimentos... Dor, angustia, insegurança, confiança e ao mesmo tempo fraqueza. Permanecemos ali ao seu lado por algumas horas e nos despedimos totalmente arrasados. Aproveitamos para ir na maternidade e ver se o papel para poder registrá-la estava pronto. Ao chegar lá perguntei sobre esse papel e a enfermeira preencheu na hora pra mim. As observações eram Prematuridade extrema, Cardiopatia complexa e Síndrome Genética à esclarecer. Bem, tudo acontecia com a gente nesse hospital. Assim que eu peguei o papel percebi que estava preenchido de forma incorreta e fui informá-la do erro. Lembro-me da cara dela de insatisfação porque eu não quis registrá-la naquele hospital, pois assim ela não precisaria corrigir seu erro. - "Me desculpe, mas quero registrá-la em outro cartório", assim disse a ela, onde ela fez uma nova via. Algo tão simples, sem necessidade daquele transtorno todo. Saí da Utin naquele dia transtornada, a forma com que a Eloá estava, era só um milagre do Senhor para nossa filha sair daquela situação. Eu e Lorenzo não entendíamos o porquê dela estar daquele jeito. Tentávamos entender, mas de nada adiantava. Estávamos de carona com seu primo, onde aproveitamos e pedimos que nos deixasse no cartório em nosso bairro, e assim ele fez. Fomos nesse cartório mas infelizmente não fazia registro de nascimento e seguimos caminhando para casa. Um caminho um pouquinho longo, e pra mim recém operada era um caminho quilométrico... Enquanto nos dirigíamos para casa, aproveitamos para buscar as crianças na escola, já que era caminho e horário deles saírem da aula. Assim que chegamos em casa o Lorenzo me disse que iria para igreja com um amigo nosso, Vanderlei; e sua esposa ficaria comigo e já me traria uns cueiro para Eloá. Assim ele fez. Quando eles chegaram o Lorenzo já desceu para ir a igreja e a Carlene subiu para ficar me fazendo companhia. Nesse pequeno período minha tia me ligou para saber como eu estava, onde não me aguentei e comecei a chorar no telefone contando sobre a visita na Utin, eu literalmente me desabei com ela ao telefone. Tadinha, ela nem teve reação, apenas me dizia para confiar no Senhor. Quando Carlene entrou em minha casa, ela viu meu desespero e por um tempo eu não conseguia falar e por longos minutos ela ficou de pé a me observar sem muita ação. Como eu chorava, como eu me rasgava em prantos. Assim que eu consegui por um tempo conter-me, contei o que tinha acontecido e dizia assim: "Só um milagre minha filha sair viva, só um milagre!" Ela levou uns cueiros para Eloá e aproveitou e já lavou pra mim... Lavou uns uniformes das crianças que pra mim naquele dia foi uma grande ajuda. Conversamos e por alguns momentos eu conseguia me distrair com outros assuntos. Ela foi uma gracinha, levou um pacote de fraldas descartáveis para Eloá, afinal, quando muitos souberam que Eloá poderia usar suas coisinhas, quiseram nos ajudar. Ao mesmo tempo que eu confiava no Senhor, eu temia o pior. Como eu disse: "Somente um milagre do Senhor nossa filha sair viva daquele hospital." Com toda aquela situação ruim, eu ainda tinha muitas esperanças. A Angiotomografia era para o médico ter todos os detalhes do coração da Eloá, uma melhor visualização de cada estrutura. O médico dela queria pensar em uma cirurgia a princípio paliativa. Tudo isso nos enchia de esperança a pesar daquele novo quadro. A remoção dela estava prevista para às 14h00hrs e não poderíamos nos atrasar caso contrário, a Eloá não iria fazer esse exame. Naquele momento esse exame era mais que fundamental para que ela pudesse ter uma qualidade de vida melhor na Utin, humanamente falando, a vida da Eloá dependia daquele exame. Aquela quinta-feira foi um dia terrível. Levamos as coisas dela para que as enfermeiras pudessem colocar nela, e nem tínhamos certeza que elas teriam tempo. Na Utin elas não usaram nada naquele dia pois elas teriam que higienizar a incubadora e aproveitariam quando a remoção fosse buscar a Eloá para poder colocar as coisinhas dela. Coisas tão simples mas que naquele momento nem poderíamos afirmar que seria possível de acontecer. Aquela noite sim, foi uma noite onde eu não conseguia dormir. Minha cabeça só conseguia pensar em ela ter que fazer esse exame; quanto medo, quanta angústia eu vivi naquela noite. Na Utin não passam informações por telefone, quando eles chegam a ligar é por que algo muito sério aconteceu. Eu não queria receber nenhuma ligação deles, pois assim eu saberia que mais um dia o Senhor poupou a vida de nossa pequena Guerreirinha. Assim como orei para que o Senhor fizesse o sobrenatural na vida da Eloá quando ela estava com sonda urinária, da mesmo forma orei para que quando chegássemos lá, encontrássemos nossa pequena sem inchaços e roxos. Como eu cria que o Senhor faria isso, sim, eu cria.
05 de Maio 2017
O DIA DE INCERTEZAS

Sexta-feira, dia de fazer a Angiotomografia, ansiedade, medo, incertezas e muita angústia nos resumia nesse dia. Sabe quando você tem medo do que vai falar, medo de não entender tudo o que o médico vai dizer, medo de fazer alguma coisa de errado? Pois é, assim eu estava naquela sexta-feira. Eu e o Lorenzo já havíamos nos decidido quem iria na remoção com a Eloá, que seria eu. Ele iria seguindo a ambulância e nos encontraria no hospital onde esse exame seria feito. Como eu tinha medo de não conseguir entender o que o médico iria me falar, eu já não estava conseguindo processar mais nada, era como se eu não soubesse explicar mais nada do que estávamos vivendo. Por fim, senti-me como uma pessoa que não consegue fazer mais nada. Eu já estava assustada e com medo, principalmente medo de errar. Naquela manhã tínhamos que nos desdobrar, nada poderia dar errado nesse dia. Não era permitido atrasos em hipótese alguma. Coloquei uma roupa confortável para poder suportar esse deslocamento na ambulância. Resguardo? Isso não me pertencia a muito tempo. Eu sentia dores para poder me levantar, virar de um lado para o outro na cama... Chorar? Era uma forma de aliviar todo peso em mim, e nesse momento meu corpo contraía de mais; como senti dor, meu Deus, como senti. Pegamos o carro com nossos líderes de célula e também vizinhos , onde aproveitaríamos o carro para poder registrar a Eloá no mesmo cartório em que casamos. Isso para caso precisássemos de buscar o registro seja por qualquer motivo, ficaria muito mais fácil ter todos os registros em o mesmo lugar. Deixamos as crianças na escola e seguimos para o hospital. Chegamos no hospital por volta de 13h30hrs, nos identificamos e entramos. Como não tínhamos certeza qual o horário iríamos voltar do exame, decidimos ali mesmo que registraríamos a Eloá no cartório do hospital e nos dirigimos a ele primeiro. Infelizmente não conseguimos registrá-la ali pois o cartório funcionava até o meio dia, mas buscamos informações a respeito de onde poderíamos registrá-la, e que fosse o mais perto possível. Nos disseram que nem no cartório de nosso desejo em registrá-la não poderíamos, e sim quê, teria que ser no distrito onde residimos, ou seja, agora teríamos que registrá-la em Vitória. Só Jesus! Eu não queria mais que a identificação dela fosse RN de Náila, e sim, o nome dela no seu prontuário. Quando chegamos na Utin, após lavar as mãos, logo fomos para a incubadora da Eloá. Senhor, ela ainda estava um tanto inchada, porém a sua barriguinha já não estava tão escura quanto o dia anterior. Seu pescoço continuava inchadinho, e ainda bem rígido. Eu e Lorenzo conversávamos ali baixinho a respeito de como ela estava, e eu tentava mostrar que havia tido um pouco de mudança do dia anterior para aquele dia. Eu queria ver grande melhora, mas ainda não havia tido. Conversamos com o plantonista pois o médico dela passava a visita pela manhã e ali ele não foi amistoso quanto ao quadro de saúde dela. Sabe aquela pessoa que já está aguardando o pior acontecer? Foi a impressão que tive desse médico. Muito seco, parecia que não queria nos passar nenhuma informação, como se fosse um peso pra ele. Perguntei sobre a remoção e ele nos disse que logo chegaria, e que não saíssemos de lá, pois, caso contrário eles não a levariam. A saturação da Eloá  estava entre 87 e 88% onde aquele aparelho não parava de alarmar. Isso me deixava maluca e eu toda hora perguntava se era normal aquilo. Eles não eram bem claros quanto a isso, acho que para não nos abalar. Nossa filha começava a desistir e não podíamos fazer nada. Eu estava muito mexida com tudo aquilo, eu tocava nela e dizia: - "Mamãe e papai está aqui com você!" A todo momento enfermeiras viam ver a Eloá pois sua saturação o tempo todo caía e o aparelho alarmava cada vez mais. Eu tentava me situar diante daquilo tudo, porém, eu me via totalmente perdida. Eu tentava conversar com o plantonista mas era sempre sem sucesso. Ele conversava constantemente com outra plantonista daquele dia onde eu os observava a todo momento. Quando ele percebia que eu estava olhando ele diminuía o volume da voz para que eu não escutasse o que falavam. Ele conversava a respeito da Eloá, acredito que ele expressava a sua certeza do que poderia acontecer a qualquer momento... Enquanto eles conversavam, eu permanecia com a bebê. Eu a tocava me segurando para mais uma vez não desabar e ali em constante oração, até que por fim a remoção chegou. Quando percebemos que eram de fato eles, me afastei da incubadora e fiquei a pequenos metros dali observando o que eles iriam fazer. A médica da remoção naquela tarde, acredito que não estava no seu melhor dia. Pense numa pedra de gelo, era ela. Logo eles se dirigiram a incubadora da Eloá e pegaram o seu prontuário. Ela resmungava a todo momento a respeito do quadro de saúde da Eloá. Se recusou a removê-la visto que sua saturação estava baixa e chegava a oscilar em 84%. Ela dizia ao plantonista que se ela removesse a bebê, Eloá poderia descompensar no caminho levando ela a morte. Eu não entendia nada, apenas percebia a insatisfação dela em ter que remover um bebê tão crítico. O plantonista dizia a ela que Eloá não iria estabilizar a saturação, e que poderia a remover daquele jeito mesmo. Infelizmente era um risco, pois, aquele exame era muito importante. Eu estava com os olhos fitados neles, foi quando o plantonista percebeu e retirou a médica da remoção da minha visão e conversou com ela a respeito da Eloá, conversa essa que jamais irei saber. Ela retornou de onde eles conversaram e decidiu remover a nossa filha. Retirar um bebê de uma incubadora e transferi-la para outra, era um processo um tanto quanto complexo. Eu acompanhava tudo de longe, eu não podia ficar perto, pois, eu poderia atrapalhar. Enquanto a enfermeira retirava o respirador da Eloá para poder colocá-la no respirador portátil, a médica ficou testando esse respirador aproximando o cano sobre sua bochecha e palma da mão. Enquanto ela estava testando, uma enfermeira ventilava Eloá de forma manual o que era extremamente agoniante. Eu e Lorenzo ficamos fixos nessa médica, até que por fim ela desistiu de remover a Eloá e pediu que a voltassem para o respirador. Lorenzo ficou indignadíssimo, pois, o respirador que levaram para removerem a Eloá estava com defeito... e não era apropriado para um recém-nascido e principalmente um prematuro extremo que era o caso da Eloá. Ele questionou com a enfermeira a respeito desse respirador pois ele já deu treinamento para médicos operarem respiradores. Ele não era leigo a respeito disso onde percebemos  maior agitação após o questionamento dele. No final de tudo, a Eloá não fez a Angiotomografia, não fez a Ultrassom da Transfontanela e nem tinham feito o cariótipo. Sei que eles tentavam nos explicar o porquê não levariam a Eloá para o exame, diziam não entender o porquê aquele aparelho estar com defeito, visto que eles já utilizaram em outras remoções. Eles nos pediram desculpas e foram embora. Após eles terem ido embora, ficamos próximo a Eloá. Muitas coisas passaram por minha mente, assim como muitas coisas na mente do Lorenzo. Olhávamos para nossa filha e em nosso coração um buraco enorme. Não conseguíamos explicar e muito menos entender como que nenhum exame pôde ser feito. Não podíamos demorar muito, pois, tínhamos que registrá-la e não podíamos adiar, caso contrário só faríamos na segunda-feira. Mais uma vez nos despedimos da nossa pequena princesinha com o coração partido. Chorei muito, muito, muito... Que dia difícil, que dia! Oramos mais uma vez por ela, e novamente pedíamos que o favor do Senhor viesse sobre a nossa filha. A abençoamos e fomos para o cartório. A caminho do cartório conversávamos muito a respeito daquele dia, e ainda não entendíamos como ela não conseguiu fazer nenhum exame. Lorenzo saiu de lá com objetivo de processar o hospital pela negligência com nossa filha, e sinceramente, eu não o encorajei a isso. Nada do que fizéssemos mudaria o quadro de saúde da Eloá, e se nossa filha morresse durante a remoção, isso não a traria de volta. Nosso lado humano grita nessa hora, mas eu orava para ser guiada pelo Espírito Santo, e ali era o momento para que o Espírito Santo viesse nos conduzir conforme a vontade dEle, e assim o permitimos. Quando chegamos no cartório fui logo para fazer seu registro de nascimento, enquanto Lorenzo estacionava o carro eu adiantava todo o resto. Nossa, soletrar todo o nome da Eloá foi um momento muito emocionante pra mim... Ali eu lembrava das palavras de maldição contra a nossa filha, das incertezas, das possibilidades e com grande emoção, eu estava registrando o nome do meu milagre: Eloá Vergna Oliveira. Lorenzo logo chegou para assinar como declarante e logo pegamos sua certidão em mãos. Enquanto íamos para casa, eu lia seu registro e chorava de emoção, eu agradecia ao Senhor poder ter tido tempo para registrar nossa filha. Já saímos do cartório próximo ao horário das crianças saírem da escola, onde já os buscamos e formos direto para casa. Nesse dia em casa no momento do café da tarde, um longo silêncio tomou conta de nós. Eu e as crianças nos olhávamos, como quem não tinha o que falar, e logo percebemos o Lorenzo com seus olhos tomados em lágrimas... E logo aquele silêncio cessou com um pranto incontrolável do Lorenzo. Um choro desesperador, um choro que estava preso por muito tempo não tendo como conter. Eu me levantei e o abracei fortemente. Eu chorava, porém, mais contida. Me lembro de falar com ele: - "Amor, não prende mais, chore, coloque para fora!" Ele cada vez mais pranteava até conseguir falar novamente. Ele então me disse assim: - "Amor, eu senti que a nossa filha está partindo." Eu não queria acreditar que isso poderia acontecer, mas a realidade era essa. Eu dizia: - "Calma amor, Deus é Deus de milagres... Vamos crer!" Permanecemos ali, um ao lado do outro dando forças e chorando um com o outro. Passar aquele restante do dia era mesmo de grandes incertezas e medo. Esse foi o dia que mais temi meu telefone tocar e ser uma ligação do hospital. Eloá não estava nada bem, os olhares dos médicos naquele dia disseram mais que mil palavras, e o que eu poderia fazer? Sinceramente nada. Permanecíamos em oração ao Senhor pedindo o milagre e favor do Senhor sobre a vida da nossa pequena Eloá. Certeza de que ela sairia daquela situação não tínhamos, mas tínhamos Fé! Fé que o Senhor mudaria a nossa história para sempre.

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